A mudança aconteceu após cadeirantes denunciarem para a Defensoria Pública do estado a falta de acessibilidade do aquaviário
Cadeirantes só conseguem usar aquaviário 1 ano após início de funcionamento no ES
Rampas e plataformas que garantem a acessibilidade foram instaladas, possibilitando a viagem entre Vitória, Vila Velha e Cariacica. Quando foi inaugurado, serviço foi alvo de reclamações.
Por Viviane Lopes, Paulo Ricardo Sobral, g1 ES e TV Gazeta
Mesmo já funcionando há mais de um ano, o aquaviário – sistema de transporte público integrado ao Sistema Transcol – só passou a ser utilizado por cadeirantes nesta quarta-feira (9). Rampas e plataformas, que garantem a acessibilidade, foram finalmente instaladas possibilitando a viagem entre Vitória, Vila Velha e Cariacica, cidades da Grande Vitória.
Segundo o presidente da Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Espírito Santo (Ceturb), Marcelos Campos Antunes, as três estações do modal já estão prontas para uso de todos os públicos.
A mudança aconteceu após cadeirantes denunciarem para a Defensoria Pública do estado a falta de acessibilidade do aquaviário. A ação civil pública foi enviada para a Justiça e segue em andamento.
Cadeirantes não conseguiam usar sistema
A situação chamou atenção após um adolescente, de 13 anos, ser impedido de utilizar o transporte por utilizar cadeiras de rodas. O aquaviário foi inaugurado em agosto de 2023 e não possuía entradas acessíveis. Mais de um ano após começar a funcionar, o local continuava sem rampas.
Em setembro, o presidente da Ceturb prometeu que dentro de um mês as mudanças seriam feitas. No início desta quarta-feira (9), como prometido, os cadeirantes encontraram o transporte acessível.
Mudanças
Entre as alterações feitas, uma estrutura elevada foi colocada para ligar uma rampa aos barcos. Além disso, duas rampas em dois locais diferentes foram instaladas nas três estações operantes do aquaviário. As estruturas ficam nas duas pontas do barco para que o cadeirante consiga acessar o transporte, independente de como o veículo esteja estacionado.
Antes das adaptações, uma rampa metálica pequena era a opção, mas não dava sustentação e segurança para que a cadeira de rodas passasse no local. A partir das mudanças, o aquaviário possui uma plataforma móvel e outra fixa dentro da embarcação que ajuda na travessia do cadeirante para a parte interna onde ficam os demais passageiros.
As embarcações Moxuara, Penedo e Fonte Grande estão totalmente acessíveis, assim como as estações da Prainha, Praça do Papa e Porto de Santana. Mas a nova embarcação de dois andares, de nome Morro do Moreno, chegou ao estado e só será liberada após passar por adaptações de acessibilidade.
O presidente da Ceturb disse ainda que pretende aumentar o espaço reservado para os cadeirantes e que a nova embarcação e as novas estações só serão liberadas quando atenderem às exigências do público.
“Fizemos testes com cadeirantes com diferentes tipos de cadeiras e tamanhos. Todas passaram. Fizemos um pedido para a capitania para retirar uma fileira de assentos dentro do aquaviário para aumentar o espaço. Dependemos da autorização deles, mas pedimos urgência”, destacou o presidente.
O g1 procurou a Capitania dos Portos para saber se existe alguma previsão para a autorização, mas não teve nenhum retorno até a última atualização desta reportagem.
Na estação da Praça do Papa, em Vitória, existe apenas uma restrição de maré. O cadeirante só pode embarcar se a maré não estiver muito alta, mas os passageiros serão avisados e orientados para esperar a mudança da maré e embarcar em outro horário.
Sentindo na pele
O Bom Dia Espírito Santo mostrou a história do adolescente Eduardo Dalla, de 13 anos, que planejou por meses fazer uma viagem de aquaviário, mas ele e a mãe Daniela Borges não conseguiram utilizar o transporte por causa da falta de acessibilidade.
“Fui pedir informação de horário de balsa e o rapaz falou que eu não ia poder embarcar com o meu filho porque não era acessível. A obra tem menos de um ano, como não é acessível? Foi uma obra gigantesca do governo do estado, e é inacreditável. A gente já enfrenta inúmeras barreiras e agora uma coisa tão moderna também vira um empecilho pra gente” reclamou a mãe.
O jovem fez um apelo para as autoridades após ter a viagem frustrada.”Cheguei aqui e fiquei decepcionado. Não tem acessibilidade, cara! Isso é chocante, é triste. Eu espero que depois dessa entrevista aqui, se alguém do governo estiver assistindo isso, por favor, ponha pelo menos uma rampa”, disse.
Nesta quarta, mãe e filho assistiam ao Bom Dia ES quando viram o presidente da Ceturb anunciando que o aquaviário estava acessível. Eduardo e a mãe foram à estação da Prainha para realizar o desejo do jovem. “É a obrigação do governo do estado diminuir as barreiras que a gente enfrenta. Meu filho vai poder andar que nem todo mundo, afinal ele é todo mundo. Estávamos em uma expectativa muito grande para poder fazer o passeio”, relatou a mãe.
A Defensoria Pública do Espírito Santo informou que desde junho entrou com uma ação civil pública após receber inúmeras denúncias, principalmente de cadeirantes, da falta de acessibilidade no aquaviário. O coordenador de Direitos Humanos e Diretos das Pessoas com Deficiência da Defensoria Pública, Hugo Matias, disse que o órgão acompanha o caso desde outubro de 2023.
Mesmo após a entrega das rampas e plataformas no aquaviário, a defensoria informou que a ação segue tramitando na Justiça. “Importante registrar que não obstante o ajuizamento da ação, sempre é possível uma solução consensual. A defensoria continua a disposição para o poder público para conversar, sentar, entender e até se for apresentado uma proposta razoável”, disse.
Histórico do aquaviário
O Sistema Aquaviário da Grande Vitória estava desativado desde a década de 1990, e foi inaugurado no dia 20 de agosto de 2023. O anúncio para a volta do sistema foi uma das promessas de campanha do governador Renato Casagrande (PSB). Na época, o governo informou que o investimento seria de R$ 6,6 milhões. O prazo para entrega da obra foi adiado várias vezes.
Três estações começaram a funcionar: uma na Prainha, em Vila Velha, outra na Praça do Papa, em Vitória e uma terceira em Porto de Santana, Cariacica. Mas, mesmo com mais de um ano em funcionamento, o local não tinha uma estrutura para pessoas com deficiência.
Durante uma entrevista ao vivo no Bom Dia Espírito Santo em setembro, o próprio presidente da Ceturb afirmou a falta de acessibilidade do transporte, mas disse que a instalação de rampas é um compromisso do governo do estado. Na ocasião, o presidente também deu o prazo de um mês para que o aquaviário se adequasse as necessidades dos cadeirantes.
Foto: Reprodução/TV Gazeta